US PODRUTO




**foto de Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde.

Guardar uma coisa 
não é esconde-la nem tranca-la
em cofres não se guarda nada
em cofres se perde a coisa à vista.
POR ISSO 
MELHOR SE GUARDA 
O VOO DE UM PÁSSARO 
DO QUE UM PÁSSARO PRESO!

+teatro com loucura
PERERÊ


O segurança do Municipal e a insegurança no Rio

PERERÊ __7 de junho de 2013 às 00:15

Está ficando difícil viver honestamente da venda de drogas no Rio de Janeiro, por isso carrego a carga no saco de pão de forma. De forma que cheguei na Cinelândia por volta das seis e meia da tarde da quarta (29/05/13).
Tinha acabado de sair do “Teatro com Loucura” que toda quarta se reúne no Tá Na Rua e dessa vez a celebração foi no espaço do Largo da Lapa. O Teatro com Loucura é incrível! Os internos do Instituto Nise da Silveira se misturam com os malucos do teatro, músicas tocam e os corpos reagem. As cenas surgem naturalmente. Dionísios é Deus reverenciável, Reginaldo Terra é coroado, Vitor Pordeus maestra essa orquestra de insurgências. Teatro de arena aberto ao público, não precisa ter experiência, só requer disponibilidade às experiências,é contagiante!
Pois bem, eu vinha daí e aproveitei a carga energética em potência máxima para uma investida na Cinelândia.
No caminho achei um palco na rua e levei junto comigo. Uma movimentação de baleiros e ambulantes em torno do Municipal me fez perceber que era dia de evento no Teatro. Pendurei a bolsa no corrimão, retirei dela as drogas,posicionei o caixote, digo, o palco bem em frente à escadaria e despejei ali nos transeuntes o primeiro poema. Um proibidão que diz:

"o amor desceu o morro e assaltou a praça!
Revolte-se! Há essa necessidade.
A vítima entregou a bolsa 
e mesmo assim o amor atirou
O amor exigia a vida 
o amor desceu o morro e assaltou a praça!"

Na seqüência, saco a droga da sacola e grito:
- Vendo pó! Vendo pó! É pó...esia moça, só isso... Só isso tudo! É comida senhor, está com fome? Usa drogas madame?
Desço do caixote e ofereço aos transeuntes do entorno do teatro. Revezava entre as manifestações sobre o palquinho e o mangueio da droga propriamente dito,aliando assim as duas expressões: o poema escrito(deitado) e o poema de pé (falado).
Um companheiro vendedor ambulante que correspondia às manifestações, também se expressava, por vezes fizemos uma dupla de expressões fortes. Falamos sobre limpeza urbana, urgência de gritos libertários, de coisas públicas que se transformam em coisas privadas...
Numa dessas descidas do caixote com os poemas e oferecer o alimento para uma perfumada velhinha – nesse momento as escadarias já estavam cheias de gente bem limpinha e arrumada_ fui interrompido pelo meu parceiro de cena que chamava a minha atenção para o furto:
- Estão levando tuas coisas irmão!
Quando olhei só vi um sujeito deterno com o palquinho em uma das mãos e minha bolsa na outra, ia levando lá para a parte da lateral do teatro. Corri atrás dele e já cheguei gritando:

- Ô ô ô ! Minha bolsa! 
Ele se virou de um salto de susto, e tentou me acertar com o palquinho, eu esquivei no passinho do funk.
- Essa bolsa é minha! Está me roubando!
- Sabe com quem você está falando?
- Deve ser com um ladrão, essa bolsa é minha!
- Eu sou o chefe da segurança do teatro municipal
- Mas está me roubando!
Ele ameaça:
- Você não pode chegar assim por trás dos outros que eu podia te dar uma caixotada! Tu quer levar uma caixotada?
Eu encho o peito em tom desafiador:
- Sabe o que vai acontecer se você me deruma caixotada???!!!
Ele dobra o blefe:
- O QUEEEEEEEE???!!!
Respondo soltando o ar, e sem nenhuma ironia
- Você vai me machucar, provavelmente eu vou cair no chão ensangüentado, vai causar estardalhaço porque eu também não vou gostar, vou querer fazer alguma coisa... E aí? Foi para isso que você veio aqui hoje?
Pareceu se sentir desarmado, me devolveu a bolsa e levou o caixote.
A indústria da violência lucra muito com a venda da segurança. O estado cria a insegurança (seja perseguindo trabalhadores, desapropriando a casa dos pobres, gerando especulação imobiliária) e investe na polícia. A mídia põe a pilha. Os cidadãos se cercam com grades e cercas elétricas. Contratam capangas armados, instalam câmeras e vivem prisioneiros de seus medos.
Mas segurança não é proteção armada, segurança é outra coisa. Saber onde se está pisando, reconhecer as pessoas presentes ao lugar, traz muito mais paz. Saber chegar, saber sair, poder voltar e andar livre pelo espaço é a mais convicta segurança.
E nessa história há uma metáfora muito interessante que ilustra nossa segurança. Pois o tal agente “segurança” do Municipal foi quem desestabilizou a paz do ambiente. Tentou roubar minha segurança e quase tira a segurança geral dos presentes –se me acerta com o palco não sei o que aconteceria. E o amigo baleiro ambulante foi quem zelou pela minha segurança. Eu confio até em quem eu desconfio, só procuro não criar expectativas.

https://www.facebook.com/notes/dudu-perer%C3%AA/o-seguran%C3%A7a-do-municipal-e-a-inseguran%C3%A7a-no-rio/647585865255155

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